Como disse uma amiga dia desses, 2014 tá um ano com características de Água, cheio de emoções e
fluidez, e como bom líquido que é, tem dia que não tá pra peixe. Hoje tava
assim, um 16 de maio de mar meio morto, acordei desanimada e pensativa sobre
algumas questões que quero melhorar e, nesse humor, foi-se a manhã. Na hora do
almoço fui comer no restaurante da universidade e sentei com duas veterinárias
colegas de departamento. Uma delas foi mordida por um gato desconhecido esses dias
e a conversa era sobre isso, mais precisamente na raiva que ela podia ter pego.
A gente falava do vírus, e não do sentimento, ok? Nisso, ela
mostrou o dedo mordido, com uns pontinhos vermelhos, marcas dos dentes do
infrator. Nessa hora me veio a lembrança do meu episódio com pontinhos
semelhantes: há 4 meses, participando de um programa inspirador de
empreendedorismo social numa comunidade em Santos, pisei sem querer em um gato
e ele me mordeu. Levei um susto, mas não me preocupei. Ele tinha dona, ela viu
e na hora já disse que ele era vacinado. Tudo continuou normalmente durante o
programa e fiquei feliz de não ter ido ao hospital nenhuma vez. Voltando ao
almoço (!), parei e perguntei se tinha perigo pegar raiva com esses furinhos,
afinal tão pequenos, elas disseram que sim, e falaram mais sobre a transmissão
e gravidade da doença, sobre o sistema nervoso, o papel dos animais nessa
história toda e por aí foi. Resumindo: a doença é grave pra caramba, altera
comportamento, mata gente, mata gato, mata cachorro e mata morcego, e não
precisa de tanto contato assim com um desses infectado pra pegar o vírus, mas a
boa notícia é que a doença destrói tão rápido que é difícil ver um animal
doente por aí. Nessa prosa, comecei a perceber cá com meus botões que, lá em
janeiro, se o gato que me mordeu fosse outro, sem dona e paradeiro conhecidos,
provavelmente eu não teria me preocupado mais com a situação. Tinha tanta
atividade acontecendo e, afinal, eram furinhos com um sangue tão insignificante
que eu não ia perder tempo tomando soro antirrábico. Nessa hora senti um misto
de autopreservação tardia, desespero e emoção. Cara, eu podia ter morrido! Daí
veio outra sensação: gratidão, gratidão profunda por tudo que poderia ter sido
diferente e não foi, pela vida e pelos meus problemas, muito mais
insignificantes que os furinhos na minha perna. Pode parecer dramático todo
esse raciocínio que se passou na minha cabeça, mas prefiro dizer que foi
intenso de emoções e que no fim só trouxe coisa boa. Saí do bandejão admirando
árvores muito mais bonitas do que quando entrei e, nessa apreciação, conferi se
tinha algum morcego por perto, afinal, morcego voando de dia não é normal, então
desconfia porque ele pode estar raivoso.
Obrigada,
namastê, amém.
E
que meus pais e meus professores de Biologia não saibam dessa história.
Mari, muito interessante sua reflexão! Ano passado, durante o meu acompanhamento de Chefe de Escola na Tekoa Pyau, um cachorro da tribo me mordeu na panturrilha. Sabia que era preciso tomar as vacinas e tomei todas (1 dose de anti tetanica mais 5 doses da anti rabica), mas soh depois de um tempo que fui ler e entender melhor o quanto é perigosa a doença mesmo. E tive quase a mesma percepção que você! =)
ResponderExcluirSaudades Mari! Um Beijo e continue com seus textos, por favor!