Família é um negócio maluco,
é
a primeira comunidade que conhecemos,
mas
quantas vezes, enquanto a vida passa
se
torna o todo do qual menos nos sentimos parte?
Quanto trabalho
voluntário é preciso pra gente perceber que arrumar o mundo começa com a
arrumação da própria casa? O pouco trabalho que fiz até hoje com comunidades me
trouxe essa questão, e já vou avisando que perceber isso é mais complicado do
que construir uma horta comunitária numa cidade distante, afinal, é a sua vida
finalmente participando do processo.
Fazendo esse caminho
inverso, da reforma de dentro pra fora, a gente se vê integrante de vários
clubes, todos em torno de interesses comuns, com exceção do grupo “família”, em
que o totem central não é um tema pré-definido que guia o grupo, mas é o totem
da origem, da fortaleza pra onde voltamos sempre que quisermos.
Nessa de me questionar
mil coisas, há um tempo que me pergunto “Como tornar eventos de família em algo
realmente legal?”, e me questiono isso porque já participei e vi de fora muita reunião
familiar sem sentido (de “reunir” ou de “família”). Não estou falando de
brigas, de forma alguma. Estou falando do módulo automático, de páscoa com
muito chocolate e pouca reflexão sobre o renascimento e a (i)lógica do ovo que
sai de um mamífero; e de amigos secretos sem dicas divertidas, sem risadas
bestas, quase um passa e repassa de embrulhos. Como diz Fernando Conte, um cara
que admiro muito, “SAIA DA INÉRCIA!”, bora viver esse presente, e quer laboratório
melhor do que evento familiar pra SER comunidade? Pra discutir todo e qualquer
assunto, pra rir, chorar, desabafar... para ser você mesmo!? (Pelo menos é
assim que eu acho que deveria ser...).
Tenho meus defeitos e
minhas opiniões, e em algum ponto com certeza eu discordo de pelo menos um dos
meus 59 primos (de 1º grau!), mas tudo bem. O que essa simulação de sociedade
ideal deve ter e que realmente importa é o respeito às diferenças, a escuta
sincera e a consideração pelo outro.
Já faz quase um mês que
aconteceu o encontro de família com mais sentido, na minha vida e humilde
opinião, até hoje. E acredito que assim senti porque eu mudei, eu saí debaixo
da saia da minha mãe, puxei conversa com parentes de todas as idades e me dei a
liberdade de anunciar pra todo mundo que assim eu faria. Na primeira noite pedi
a atenção batendo uma colher num copo e disse algo mais ou menos assim:
- Acho importante
marcar o inicio do encontro, dizer que começou, e como parte disso quero deixar
uma pergunta pra todos refletirem nos próximos dias: o que representa essa festa
pra você?
Celebrar é diferente de
festejar, e nos dias que se passaram alguns primos vieram me dizer que também
queriam falar algo, mas não sabiam como nem exatamente o quê. Eu também queria
fazer mais e não sabia como. Mas as coisas foram acontecendo, pois eis que em
algum momento, no meio de fotos, feijoada e 80 pessoas, nos juntamos todos em
roda e a pergunta da primeira noite voltou direcionada para os filhos de meus
falecidos avós (ou seja, minha mãe e seus irmãos), e respostas foram surgindo
de todos os lados, acompanhadas de causos, risadas, poesia, lembranças e
lágrimas.
Numa família tão
grande, mesmo quando tem muita gente sempre falta alguém, fisicamente falando,
porque pelas falas, fotografias e pensamento todos vieram, de todas as partes
do Brasil e do mundo, e até quem não está mais nesse mundo.
E desse jeito, com
todos presentes numa roda cheia de energia e abraços, minha questão foi
respondida.
Foi bom demais
fazer parte disso.
Obrigada Pradaria!
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